ESTOU DESEMPREGADA.
E como eu, muitas mais pessoas estão nessa situação, para a qual não contribuímos. Pelo contrário! Esforçámo-nos por desempenhar bem as tarefas que aceitámos cumprir em troca de um salário, quase sempre curto.
Ainda antes de finalizar um curso já eu trabalhava. Comecei num armazém, depois numa clínica -inicialmente quatro anos a recibos verdes, depois a contrato- e ao fim de três anos, (7 anos no total) por já não ser possível continuar “a prazo” -e passar a contrato sem termo “nem pensar”-, fizeram-me a proposta de voltar aos recibos verdes.
Voltar aos r. verdes? Que diabo, era competente e isso não bastava? Não aceitei!
Depois de vários meses e de mais uns cursos profissionais, vi-me novamente empregada, e novamente com contracto a termo, renovado sucessivamente e cujo último termo foi no final de Agosto último.
E –também novamente- como não “era” possível passar a efectiva, voltei a ficar desempregada.
Contas feitas estive empregada durante mais de uma década, em empresas diferentes, tenho instrução qualificada e capacidades de trabalho de que já dei provas, e porque vivo num país onde é facílimo despedir pessoas, porque as pessoas não são pessoas mas sim uma espécie de equipamento dispensável, estou desempregada aos quase 35 anos e sem perspectivas de novo emprego.
Nem tão pouco surge uma nova oportunidade, daquelas que o Primeiro Ministro fala.
Não é justo. Não é justo que as pessoas contribuam com o seu trabalho e por vários anos no progresso de uma empresa, se preocupe com o seu desempenho, e depois seja dispensada como se de um qualquer “consumível” se tratasse. Não é justo!
Foi este (resumidamente) o desabafo da amiga de uma amiga minha.
E como esta há muitas mais situações assim, em que as pessoas perdem a esperança de terem uma vida mínima de qualidade e de estabilidade.
Claro que aparece sempre quem diga que: mas nem todos são assim e há muita gente que só quer que o fim do mês chegue depressa. Concordo que hajam, porém também há muitos dos outros, dos que se interessam verdadeiramente em bem cumprir as suas funções e que não recebem o reconhecimento disso.
Calculo que haja pelo menos uma, mas não percebo nem nunca percebi as razões porque se dispensa uma pessoa para no dia seguinte se contratar outra para as mesmas funções e que vai necessitar seguramente de um tempo de aprendizagem/formação.
Estamos caminhando para um caos onde gente desocupada vai decidindo gradualmente “tratar da sua vida”, à margem da sociedade numa espécie de salve-se quem puder, num completo menosprezo pelos que vivem à sua volta?
Ou decidimos todos emigrar, para ajudar ao desenvolvimento e progresso de outros países que em nada investiram na nossa educação/instrução?
Porque isso de “exportar” cérebros tem custos; e se pagamos para eles depois irem mostrar o que valem num país que nada despendeu para o seu conhecimento e o seu desenvolvimento educacional, não estamos somente a “exportar mão de obra cara”; estamos a malbaratar todo o investimento feito durante os 12 anos de ensino obrigatório (passe o eufemismo) mais os 2, 3, 4 anos ou mais de ensino superior, conforme os respectivos cursos.
É bom que, a começar pelo actual Sr. Primeiro Ministro, os governantes tenham em atenção estas coisas antes de lhes saír boca fora a sugestão: emigrem!