MECOS E BADAMECOS
Vivemos uma era em que valores comportamentais e sociais se desvanecem como espuma na areia das praias.
Vivemos num tempo em que é menos valorizada a ilibação de um inocente do que a absolvição de um culpado.
Estamos vivendo numa sociedade equivocada onde não importa quem fez o quê desde que esse quem seja desconhecido ou -pior- sabendo-se quem é quem, o mesmo não se assuma ou se cale com (ou sem) a conivência dos seus pares. O importante é ficar impune!
Assusta-me que esteja a ser criada uma geração de irresponsáveis que neguem sistematicamente as suas acções e as respectivas consequências dos seus comportamentos, ainda que possam invocar como atenuante a complacência dos pais, porque estes não tiveram capacidade de aprender como se deve educar/ensinar uma criança a ser adulta, não lhes fazendo sentir que é essencial respeitar para ser respeitado.
Embora tenha presente o caso emblemático da praia do meco não é só isso que desejo aqui focar; é sobretudo a constatação de assistir a postura dos novos dirigentes, políticos e outros, que escusando-se/escondendo-se sob matéria jurídica se remetem ao silêncio (ou a um “não me lembro” comprometedor mas institucionalmente aceite (o que não entendo), numa clara fuga a responsabilidades próprias.
Sei que o tempo da palavra de honra (sem suporte de papel assinado e autenticado) acabou há muitos anos; mas não é disso exactamente do que falo. O que desejo mesmo é denunciar reclamando da falta de hombridade e de honestidade de todos aqueles que, conhecendo os seus meandros se servem das leis (que aprovam, eles ou os seus pares), para daí obterem todos e os mais diversos tipos de vantagens.
Quando um sistema jurídico aceita que um (declarado ou suposto) culpado tem o direito de ficar calado ao invés de se defender, a coisa não é boa. Mas que essa premissa seja tida como atenuante ou ilibatória da culpabilidade do réu já me parece um “exagero”. (como já aconteceu).
O caso da praia do meco é (só) um exemplo e não pretendo emitir juízos de valor relativamente à pessoa mas sim ao seu comportamento.
Alguém (adulto de mais de 20 anos, universitário) que perca os amigos naquelas condições (não se sentindo culpado) faria o quê?
O primeiro telefonema não seria para os bombeiros ou para a policia ou para ambos?
E depois de passados os dias de maior impacto remeter-se-ia ao silêncio? E que, ainda que instado pelos pais e/ou advogados dizendo-lhe que era melhor estar calado, isso não obstaria a que fizesse prevalecer a sua vontade, ou seja, explicar-se às famílias dos amigos (?) afogados e com elas partilhar a dor sentida por todos?
São atitudes como esta que me questiono: os meus governantes de amanhã são gajos destes? Gajos que se escondem na sombra à espera que surja um qualquer “papá” que os represente e defenda e, quem sabe, até se “emocionando” com a preleção dum juiz, mas que não se emocionou com a morte de seis filhos de outros.
Aceito que para este pai seja mais importante o seu próprio filho; mas “ameaçar” os pais daqueles que o seu filho viu desaparecerem (sem culpa?, sem culpa mesmo?), não acha que é um despropósito?
Repito: não julgo ninguém, (quem sou eu), mas condeno a atitude: a de João Gouveia (e do seu pai).
Posto isto e considerando os anos futuros da futura geração (para a qual já contribui com filhas e elas com filhos), pergunto-me: que gente, que tipo de gente vai assumir futuramente a liderança de Portugal?
Adultos preparados (bem, muito bem ou mais ou menos preparados) teoricamente mas sem quaisquer sensibilidades para serem governantes, adultos que precisam do papá para os defender ou adultos competentes e que saibam exactamente qual o melhor caminho.
Tenho medo. Mas o meu medo, o meu receio, é intuir que o que por aí vem não vai ser nada de bom porque estes, os que sabem qual o melhor caminho emigraram.
E os que restam...
Se gostava de viver até para lá dos cem anos?, eu gostar gostava mas será que vale a pena?